Abissal



tenho percebido tantas mudanças em mim que às vezes fico pensando se meu eu do passado ainda me reconheceria. fico pensando se eu gostaria do que veria. 


pode ser pretensão da minha parte, mas ao mesmo tempo que a insegurança bate, sinto que aquela criatura retraída e tímida ficaria espantada, chocada e admirada quando visse onde chegamos. 


nunca pensei que chegaria nesse estágio da vida. 


nunca pensei que seria possível superar as tempestades e ondas quilometricas que se formavam no meu mar.


nunca pensei que os furacões dariam lugar ao sol. 


nunca pensei que seria possível não me desesperar com dias nublados. 


não porque o sol vem depois, mas porque consigo entender a importância das nuvens carregadas que às vezes cobrem o horizonte. elas têm lições importantes pra ensinar. 


e ainda tenho muito o que aprender. 


todos os raios e trovões serviram para catalizar o processo de transformação. 


para fugir do clichê de sair do casulo, ou da concha, acho que prefiro dizer que estou entrando cada vez mais fundo dentro do abismo, mergulhando cada vez mais na minha zona abissal. 


quero sentir o frio das águas que não são tocadas pelos raios solares, e me aproximar o máximo possível do magma que borbulha e faz meu coração pulsar.


isso tudo muda a gente. 


é difícil ver o mundo com os mesmos olhos depois que você sai da escuridão e resolve mergulhar nela de novo. não porque ela é mais confortável. 


porque definitivamente não é. 


mas porque esse é o único jeito de enxergar a verdade. 


a verdade que ninguém quer ver, ou sentir, ou ouvir. 

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